O melhor é entrar no texto de rompante, pelo primeiro impacto quando se chega ao local de início deste percurso. E o que acontece, num magnífico dia de verão como este, é uma descarga de puro maravilhamento: as montanhas recortadas no céu límpido, os véus de sombras a avolumarem-se à distância, a aragem fresca e perfumada, o silêncio imperial…
Depois, segue-se a ânsia de começar a caminhar, o impulso primitivo de colocar um pé atrás do outro e avançar, avançar… E assim se faz, primeiro de forma eléctrica e impulsiva, para logo se abrandar e continuar em ritmo lento.
Num sítio como este devagar é a maneira mais inteligente de caminhar. E convém ir parando aqui é ali para deixar o olhar deambular em volta com a minúcia de um bisturi.
Mas volte-se atrás, pois falta o enquadramento: estamos no topo do Alto Minho, em Castro Laboreiro.
Retome-se o trilho, onde os passos ecoam discretos e as conversas são mínimas, para possibilitar a sincronização necessária dos sentidos. E a pouco e pouco vamo-nos integrando na paisagem, diluindo nela, completamente subjugados pela beleza misteriosa do granito, vislumbre puro e perfeito da eternidade. Ali é isto que conta, tudo o resto é redundante.
No fim, novamente no ponto inicial, redesenhamos no horizonte a distância do percurso e ficamos com a sensação de termos passado por uma câmara de suspensão temporal, pois não se tinha dado pelo passar das horas.
E enquanto isso, sentados a repousar ao sol cálido da tarde, íamos revendo as imagens gravadas nos recantos da memória. E suspirando pela estranha beleza das pequenas coisas.